O fenómeno dos vídeos familiares nas redes sociais tornou-se extremamente popular, transformando crianças em protagonistas de conteúdos com milhões de visualizações. Essa popularidade, no entanto, levantou questões urgentes sobre os direitos e a proteção dos menores envolvidos.
Durante anos, a conversa girou em torno de monetização, engajamento e crescimento de audiência. Mas nos bastidores, pouco se discutia sobre quem realmente beneficia financeiramente desses conteúdos e como isso impacta a infância.
Agora, pela primeira vez, leis começam a ser criadas especificamente para esse universo. Algumas propostas determinam que parte dos rendimentos gerados por vídeos com crianças deve ser obrigatoriamente reservada para elas, garantindo compensação justa pelo tempo e exposição.
Outra medida relevante assegura que, quando atingirem a maioridade, os jovens possam exigir a remoção definitiva de conteúdos que os exponham e com os quais já não se identifiquem. Trata-se de um reconhecimento de que a presença digital involuntária pode afetar autoestima, privacidade e oportunidades futuras.
Essas mudanças marcam uma viragem importante: a internet deixa de ser encarada como um limbo jurídico e passa a ser um ambiente onde os direitos de menores têm de ser protegidos com clareza. Afinal, trata-se não apenas de entretenimento, mas de trabalho infantil mediado pela tecnologia.
A discussão também aborda o impacto emocional. Muitas crianças tornam-se personagens online antes de compreenderem o significado da fama, da crítica e da exposição pública. Isso pode influenciar negativamente o seu desenvolvimento social e psicológico.
Para os criadores de conteúdo, abre-se uma reflexão profunda: até que ponto se deve transformar a vida familiar em conteúdo? Qual é o limite entre partilhar momentos e explorar a imagem de um filho? A viralização tem um preço e, no caso das crianças, elas raramente estão conscientes disso.
O que está claro é que o modelo de conteúdo familiar não vai desaparecer, mas será necessário um novo equilíbrio. Cresce o entendimento de que popularidade online não pode se sobrepor ao bem-estar e aos direitos infantis.
Autor: Junde Carlos Pereira

